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Uma carta esclarecedora

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Em 27 de junho último, quatro deputados federais estadunidenses enviaram uma carta ao presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, na qual fazem importantes considerações sobre o papel dos grandes bancos no agravamento da crise global. Em especial, os congressistas investem contra a atuação cada vez maior destes bancos nos mercados de commodities e outras atividades não financeiras, o que tem contribuído consideravelmente para aumentar os já elevados níveis especulativos que caracterizam tais mercados, com impactos significativos na formação dos preços.

bernanke

Imagem: http://www.nytimes.com

A carta, escrita pelos deputados Alan Grayson, Raul Grijalva, John Conyers e Keith Ellison, todos do Partido Democrata, aponta para uma das causas pouco comentadas do acirramento da crise, o que reforça a urgência da necessidade de adoção de uma re-regulamentação estrita das atividades bancárias, com a separação das operações comerciais e de investimento dos bancos, ao estilo da antiga Lei Glass-Steagall estadunidense.

Ademais, as ações dos megabancos estadunidenses denota que seus dirigentes têm pleno conhecimento da dimensão da crise global e estão se preparando para o pior, amealhando ativos reais que poderão se manter como reservas de valores, no caso de uma derrocada financeira generalizada – cenário cada vez mais provável. A seguir, os principais trechos:

«Nós lhe escrevemos a respeito da expansão dos grandes bancos para o que têm sido, tradicionalmente, esferas comerciais não-financeiras. Especificamente, estamos preocupados com a maneira como os grandes bancos têm, recentemente, expandido os seus negócios em áreas como a geração de eletricidade, refino e distribuição de petróleo, controle e operação de ativos públicos como portos e aeroportos e, até mesmo, a mineração de urânio.» (Isto não é um assunto de segurança nacional?)

«Alguns exemplos. Em junho, o Morgan Stanley importou 4 milhões de barris de petróleo e produtos petrolíferos para os EUA. O Goldman Sachs armazena alumínio em vastos depósitos em Detroit, além de estar atuando como corretor de derivativos de commodities. Este “banco”, também, está se expandindo para a propriedade e operação de aeroportos, rodovias pedagiadas e portos. O JP Morgan vende eletricidade na Califórnia.»

«Em outras palavras, o Golman Sachs, JP Morgan e Morgan Stanley não são mais apenas bancos – efetivamente, eles se tornaram companhias petrolíferas, operadores de portos e aeroportos, corretores de commodities e empresas elétricas. Isto está causando problemas imprevistos para o setor industrial da economia. Por exemplo, a Coca Cola abriu uma queixa contra o Goldman Sachs, na Bolsa de Metais de Londres, por estar acumulando alumínio. O JP Morgan está sendo investigado pelas autoridades reguladoras, por manipular preços de energia na Califórnia… Não sabemos que outras manipulações de preços poderão estar ocorrendo, devido às potenciais vantagens de informações detidas por corretores de derivativos que também comercializam commodities. A longa sombra da Enron poderia se lançar sobre estas atividades.»

«Segundo a jurista Saule Omarova, nos últimos cinco anos, ocorreu uma “quieta transformação das holdings financeiras dos EUA”. Estas companhias de serviços financeiros se transformaram em mercadoras globais, que procuram extrair rendas de quaisquer atividades comerciais ou negócios financeiros ao seu alcance… Esta mudança tem muitas conseqüências para a nossa economia e para os reguladores bancários. Nós gostaríamos de saber como a Reserva Federal está respondendo a esta mudança.»

«Nos parece que há um significativo risco macroeconômico em se ter uma entidade massiva, por exemplo, como o JP Morgan, tanto emitindo cartões de crédito e hipotecas, como administrando ofertas de títulos municipais, vendendo gasolina e eletricidade, operando grandes petroleiros, vendendo derivativos e possuindo e operando aeroportos, em vários países. Semelhante mesclagem dramática da economia industrial e da cadeia de suprimentos com o sistema financeiro cria um risco sistêmico, uma vez que não existe, efetivamente, qualquer entidade reguladora que possa supervisionar o que está acontecendo dentro destas entidades globais em expansão.»

A iniciativa dos congressistas ocorre em meio a um debate que se acirra nos meios políticos estadunidenses, sobre a necessidade de um reenquadramento dos bancos em uma nova roupagem da Lei Glass-Steagall de1933, que foi uma peça fundamental do arsenal do New Deal do presidente Franklin Roosevelt, com o qual retirou o país da fase mais aguda da Grande Depressão. Abolida durante o governo Clinton (1993-2001), em nome de uma alegada necessidade de “flexibilizar” e “modernizar” as atividades financeiras, a lei representa exatamente o tipo de iniciativa necessária, não apenas nos EUA, mas em todo o mundo, para recolocar sob controle o mundo financeiro. Oxalá iniciativas como essa prosperassem em outros parlamentos nacionais.

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Créditos ➞ Este artigo foi apresentado no Boletim Eletrônico MSIa INFORMA, do MSIa – Movimento de Solidariedade Íbero-americana, Vol. V, No 02, de 19 de julho de 2013.

MSIa INFORMA ➞ É uma publicação do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa). Conselho Editorial: Angel Palacios, Geraldo Luís Lino, Lorenzo Carrasco (Presidente), Marivilia Carrasco e Silvia Palacios. Endereço: Rua México, 31 – sala 202 – Rio de Janeiro (RJ) – CEP 20031-144; Telefax: 0xx 21-2532-4086.

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