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Europa entre a deflação e o desenvolvimento eurasiático

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O último relatório semestral do Tesouro dos EUA sobre a situação econômica internacional joga sobre a Alemanha toda a responsabilidade pelo fracasso da estabilidade da economia mundial. A causa de todos os males seria o seu superávit comercial. Mais que um exagero, parece uma pura provocação, não só contra a Alemanha, mas contra toda a União Europeia (UE). É claro que existem irregularidades e desequilíbrios no Velho Continente, mas cabe a nós enfrentá-los e resolvê-los.

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Imagem: http://www.columbian.com

Anteriormente, quem estava na berlinda era, em particular, a China, contra a qual se queixava da falta de valorização do yuan como agravante das dificuldades econômicas dos EUA e do resto do mundo. Agora, o problema seria o excesso de exportações alemãs. Em 2012, o superávit comercial alemão foi de 238,5 bilhões de dólares, bem superior aos 193,1 bilhões da China. E, no primeiro semestre de 2013, o superávit alemão aumentou ainda vai mais, atingindo a marca de 7% do PIB.

Na avaliação do Tesouro estadunidense, na ausência de um crescimento da demanda interna alemã, essa dinâmica estaria provocando uma situação de deflação, com uma inflação mais baixa que as expectativas e uma estagnação no consumo em toda a Europa, acarretando consequências negativas para os EUA e o resto do mundo.

Não deixa de causar um certo impacto, ler que uma taxa de inflação contida e um superávit comercial elevado – geralmente, uma evidência de alta competitividade e demanda global por produtos de tecnologia de qualidade – sejam considerados fatores de desestabilização econômica. Na verdade, o relatório parece colocar um foco especial no aparente sucesso estadunidense na criação de 7,6 milhões de novos empregos, desde 2010, ao passo que, na Europa, principalmente na Itália, o desemprego continua aumentando perigosamente, com ênfase entre os jovens. Porém, como reza o ditado, nem tudo que reluz é ouro.

De fato, o verdadeiro problema sistêmico estadunidense está ligado a uma questionável recuperação movida por injeções contínuas de liquidez nova – que não são direcionadas aos setores produtivos da economia. Isto explica o persistente déficit comercial estadunidense no setor de bens físicos, que atingiu cerca de 740 bilhõs de dólares em 2011 e 2012. Evidenemente, estão pagando pelas consequências da desregulamentação selvagem, da transferência de indústrias para o exterior e da desindustrialização das últimas duas décadas. Por conseguinte, a qualidade dos empregos que têm sido criados, a maior parte no setor de serviços de baixa qualificação, é bastante questionável.

Portanto, é extravagante e míope justificar suas falhas com o comportamento e as dificuldades dos outros. O mesmo é verdade para a Europa , se ele sempre lembrar a responsabilidade das finanças americanas no desencadeamento da crise global.

Dito isto, as divergências dentro da UE não são mais toleráveis. A economia alemã tem uma indiscutível força interna, devido à sua conhecida capacidade de inovação tecnológica, à qualificação da sua força de trabalho e, especialmente, de ser capaz de funcionar como um “sistema-país”. Certamente, a Alemanha tem explorado melhor as oportunidades do mercado comum europeu e, talvez, tenha ganhado com as debilidades dos seus parceiros. Mas seria o fim da União e, na verdade, também o enfraquecimento da economia alemã, se a Alemanha não entender que a verdadeira força da Europa reside na estabilidade econômica de todo o continente.

Portanto, se, para os EUA, é extravagante e míope justificar as suas próprias falhas com o comportamento e as dificuldades dos outros, o mesmo vale para a Europa, se esta ficar todo o tempo reclamando da responsabilidade das finanças estadunidenses no desencadeamento da crise global.

Não se trata de conceder subvenções para as regiões mais vulneráveis da Europa, mas, por exemplo, de envolver todo o bloco em uma estratégia real de integração econômica, tecnológica e de infraestrutura para toda a massa continental eurasiática. Neste contexto, se coloca o interessante projeto apresentado no recente seminário “Conhecer a Eurásia”, realizado em Verona, o qual contempla o desenvolvimento do corredor de infraestrutura eurasiático denominado Razvitie, que significa desenvolvimento em russo. Não seria apenas uma moderna “Rota da Seda”, mas uma nova abordagem abrangente e um programa de grandes investimentos de longo prazo nos setores de transportes, novas tecnologias, pesquisa e desenvolvimento, cultura, energia, comunicações, educação e recursos humanos, para elevar as condições de vida e modernizar todo o continente, inclusive, com novos assentamentos populacionais e novas realidades urbanas.

É um grande desafio. Mas a resposta vencedora para a persistente crise econômica não se refere apenas ao crescimento linear da produção de bens físicos ou do consumo, medido em pontos percentuais do PIB. Trata-se de um novo conceito de desenvolvimento, que se concentra no crescimento social e no enfrentamento dos grandes desafios da modernização tecnológica, de um lado, e da coesão entre povos e continentes, do outro. Em síntese, um novo conceito civilizatório, que permita trocar, definitivamente, a confrontação pela cooperação entre os povos.

Mario Lettieri e Paolo Raimondi, de Roma

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Créditos ➞ Este artigo foi apresentado no Boletim Eletrônico MSIa INFORMA, do MSIa – Movimento de Solidariedade Íbero-americana, Vol. V, No 17, 08 de novembro de 2013.

MSIa INFORMA ➞ É uma publicação do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa). Conselho Editorial: Angel Palacios, Geraldo Luís Lino, Lorenzo Carrasco (Presidente), Marivilia Carrasco e Silvia Palacios. Endereço: Rua México, 31 – sala 202 – Rio de Janeiro (RJ) – CEP 20031-144; Telefax: 0xx 21-2532-4086.

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